Precisamos viver essa liberdade, e deixar que o Espírito Santo aja em nós. Essa liberdade é justamente permitir a ação do Espírito Santo, custe o que custar!
E as vezes nos custa muito, pois Ele nos pede coisas que parecem sem sentido, estranhas, fora de contexto; mas não nos esqueçamos nunca que Ele penetra os corações, e por isso sabe exatamente o que convém em cada momento, mesmo que nós não entendamos. “(…) o Espírito intercede pelos cristãos de acordo com a vontade de Deus.” (Rm 8, 27)
Por isso não é muito difícil acontecer que, quando dizemos algo inspirado por Deus para alguém, que para nós talvez nem tenha importância, toca profundo no coração dessa pessoa, e lhe traz a presença de Deus.
Pode ser um abraço espontâneo num momento delicado, pode ser um comentário que conforta; tantas vezes, quando nos permitimos, somos reflexo de Deus na vida do outro. Várias vezes, nem notamos quando isso acontece.
O ministro de música deve estar muito consciente dessa liberdade; ele, que se utiliza de um instrumento que também toca fundo no coração das pessoas – a música –, deve se permitir ser, como tanto se fala, “usado pelo Espírito Santo”.
A vergonha, a timidez, o medo de ser encarado como louco não devem tolher a ação de Deus, isto é, não podemos permitir que nossas limitações impeçam a atuação do poder de Deus na vida das pessoas. E “(…) só o Espírito de Deus conhece o que está em Deus.” (1 Cor 2, 11); devemos confiar, portanto, no Seu julgamento e fazer a vontade dEle, seja qual for.
E o contrário da vergonha é a ousadia. O ministro de música precisa ser ousado. Por essa ousadia deve entender “abertura ao Espírito Santo”. Ser ousado é obedecer às inspirações do Espírito. “E todos ficaram repletos do Espírito Santo, continuando a anunciar com intrepidez a Palavra de Deus” (At 4, 31).
Para nós não é muito diferente de como os apóstolos se sentiam logo após a morte e ressurreição de Jesus, quando estavam sendo perseguidos para morrerem também, por causa da Palavra e dos acontecimentos que anunciavam.
É preciso estar cheio do Espírito para ter coragem de continuar anunciando o Evangelho nesse mundo de hoje, que também nos persegue, e pior que isso, não aceita a Verdade e propaga a mentira, afastando tantos da salvação.
Nesse mundo onde não se pode ter afeto pelo outro, onde não se acredita mais nas “coisas do coração”, onde os gestos de amor e carinho são tomados como ridículos é necessário intrepidez para dar testemunho da Luz.
A ousadia se manifesta de diversas formas, quando falamos no ministrar música.
Quando fechamos nossos olhos e cantamos/tocamos com nosso coração, com a meta em Deus, já somos ousados; pois, ao ministrar oração, pedir que a assembléia feche os olhos é até fácil; difícil é muitas vezes fechar os olhos também e confiar em Deus.
Que ousadia é dar liberdade ao nosso corpo no Espírito Santo! Seja num momento de oração, onde o corpo assume certa posição ou repousa, seja no louvor e animação, onde nos permitimos pular e dançar com todo o nosso livre-arbítrio para Deus. E creio que louvar exige muito mais desprendimento, pois todos estão de olhos abertos. E se o animador – que em geral é músico – não se deixa livre diante do Pai, como Davi se fez quando dançou e cantou pela cidade, ele não ajudará as outras pessoas a renderem graças ao Senhor.
“Quando a arca do Senhor entrou na cidade de Davi, Micol, filha de Saul, estava olhando pela janela e viu o rei Davi pulando e dançando diante de Javé; por isso, o desprezou no seu íntimo.” (I Sm 6, 16).
Quando somos livres na presença de Deus, não há nada que nos prenda, e não nos importamos com o que os outros irão pensar de nós.
Ser livre no Espírito proporciona uma sensação muito melhor do que qualquer dose de adrenalina conseguida por outros meios: mergulhar na graça de Deus é a melhor viagem!
“A prova de que vocês são filhos é o fato de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abba, Pai!” (Gl 4, 6).
Sendo herdeiros do Reino, estamos habilitados para falar em Seu nome, pois em nós habita, desde o nosso batismo, o próprio Espírito de Deus!
Espírito esse confirmado no sacramento da confirmação (crisma) e revivido todos os dias, à medida que o clamamos – Abba, Pai! – e nos deixamos ser batizados.
Não esperemos dessa liberdade o acontecimento de muitas coisas extraordinárias; não há nada mais incrível do que o dom da vida e o sacrifício que Nosso Senhor foi capaz de fazer por nós.
É nas pequenas coisas que se percebe o poder de Deus, é sim numa palavra, num olhar, num gesto de conforto, no desprendimento do corpo ou simplesmente numa oração silenciosa que o Senhor se manifesta, pois ele fala aos pequeninos…
E sendo essa liberdade fruto do Espírito Santo, vem acompanhada de discernimento. Deus não nos desampara: “(…) porque Eu lhes darei palavras de sabedoria (…)” (Lc 21, 15) Portanto, se nossa vida de oração nos leva realmente a um contato com Deus, tenhamos sobretudo confiança de que Ele bem sabe nos fazer reflexos seus. Deixemos apenas que o Espírito Santo mova nosso ser: “Eu vivo, mas não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)
Natalie Rosa
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