quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Deus não conta com você, Ele espera somente por seu sim!

DEUS NÃO PRECISA DE MIM, DEUS ME QUER!!!

No final deste mês vocacional não queria ser insistente contigo, apenas queria lhe oferecer uma breve partilha Daquele que insistiu conosco, e olha que não foi pouco.

Sua insistência me trouxe até aqui, a essa nova condição de vida. “Não fostes vós que me escolhestes, foi eu quem vos escolhi” (Jo.15, 16).

Falo a você jovem vocacionado(a) porque também sou vocacionado.

Na verdade a palavra vocação do verbo latino vocare, que quer dizer chamamento, refere-se a uma voz que cala e permanece ao coração. Independente da etapa onde nos encontramos, seja fora, dentro ou “em cima do muro”, sempre seremos vocacionados a essa voz que chama: “vinde e vede” (Jo.1 38,39), “se queres ser meu discípulo renuncia a si mesmo…” (Mt.16. 24,28), “apascenta meu rebanho” (Jo.21, 15), “eis que estou a porta e te chamo, se escuta minha voz cearei contigo” (Ap.3, 20), etc.

Sobre essa voz só tenho a dizer que é incomodante, porque não há como correr, afastar-se dela. Por mais que fechemos nossos ouvidos, ela calará ao coração e tudo que chega ao coração faz morada permanente, basta lembrarmos de nossa última “paixão”.

A minha foi o Senhor e é até hoje, pois, tudo Ele faz, a fim de conquistar-me. “Seduzistes me Senhor e eu me deixei seduzir, numa luta desigual me dominastes e foi tua a vitória” (Jr.20. 7, 9).

Quem sabe meu amigo(a) essa voz está te acompanhando já faz algum tempo, e mesmo na “baladinha” ela é muito mais alta que o som pesado que ouve e ao ir embora, é sua companheira inseparável.

Podemos até não dar ouvidos hoje, pois amanhã ela pode se levantar com mais força ainda, e o mais triste será, quando percebemo-nos em outro lugar e situação já bem definida, não havendo mais como retornar. Soubestes colocar grades que impedissem seu acesso, mais ainda hoje ela grita sem poder sair, e ser o que Deus sempre quis que ela fosse, ou melhor, o que você fosse.

Bem, sem me prolongar no sermão, esse título acima pretende, lhe explicar melhor a beleza que é ser de Deus. Quero que tu olhes pela via positiva desta frase, senão daremos as mais antigas desculpas do qual esse “pneu da frente”, já está careca de se usar, pois Deus sempre ouve essa mesma “ladainha dos desculpados”: sou vocacionado, tende piedade de nós, hoje não dá, Jesus Cristo ouvi-nos, nunca vou conseguir, Jesus Cristo atendei-nos!

Caro(a) irmão(a), toda relação de amor sincero a dois, exige liberdade de ambas as partes. O jogo de liberdades da relação entre Deus e o ser humano é confuso em primeiro instante. Essa relação com o Senhor, denomina-se de assimétrica, ou seja, há uma diferença enorme entre a liberdade divina e a humana, contudo, a liberdade de Deus será sempre maior que a nossa.

Tudo que fazemos forçado não é plausível nem para nós, e muito menos para o outro que vê o nosso mal interesse em certa finalidade. Ao perguntar o que Deus quer de sua vida, qual é a sua vocação, saiba então, desde já, que a liberdade de Deus é bem maior que a sua.

Ele o Soberano de tudo, te deixa mais do que livre para responder sim ou não. Deus não vai irar-se consigo por não responder a um chamado, a uma oferta amorosa. Conhecemos bem aquela frase usada em nossas pregações: “Deus sem você, continua sendo Deus, você sem Deus continua sendo nada”. Pois o homem só encontra seu pleno “habitat” em Deus.

Vamos, quem sabe, descobrir o desenrolar de tudo isso, quando olharmos alguns personagens bíblicos e vermos como isso funciona. A Virgem Maria é o modelo dos(as) vocacionados(as).

Se a vida vocacionada religiosa ou secular ministerial é uma relação dinâmica entre Deus e o homem que se tocam continuamente, vivendo em uma perfeita comunhão, em Maria, a Virgem de Nazaré, vemos o modelo-arquétipo de todo o ser humano que é convidado, chamado a essa compenetração com o divino por meio da graça.

Falando em graça, Ela, Maria a mãe de Deus, foi e é a cheia da graça. Com isso queremos dizer que ela não fora escolhida por Deus, por mérito próprio, humano, pois ela mesma denominou-se a menor, a escrava. Então, o que fez com que Maria dissesse seu sim? Logicamente a receptividade por ser a escolhida.

O conceito na teologia diz que a graça é dom doado (é próprio de Deus doar) e também é dom recebido (é próprio do homem receber). Maria é a nova Eva por causa de sua receptividade ao Senhor. Em Eva há uma reposta negativa (não), em Maria uma positiva (sim). O sim originário pedido desde a criação encontra sua expressão maior em Maria. Como criatura, Ela participa do ser de Deus, e antecede a cada um de nós seres humanos.

Portanto, o que é doado a um, é doado ao outro, a graça é semelhante para todos, mesma é a graça, mesmo é o Espírito, a diferença esta na receptividade do dom. Porém, sempre haverá um ser humano livre para duvidar e outro para acreditar. Qual é a sua resposta?

Muito bem, esse breve conceito teológico e catequético é justamente para responder algumas de nossas perguntas referentes a nossa vocação, talvez aquela mesma que Maria fez ao anjo Gabriel: “Como se fará isto?” (Lc.1, 34).

Entre a voz do chamado (divino) e a nossa resposta (humana), temos que dar espaço a moção do Espírito, pois fora através Dele, desse poder fecundante que tudo se sucedeu a Maria. “E , respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra.” (Lc. 1, 35). Só no Espírito que é a graça de Deus, podemos responder a tão grande chamado. É por meio Dele que devolvemos nossa resposta sincera. Não há outro, nunca seremos capazes sozinhos, por vontade e força propriamente humana.

É Deus quem privilegia a criatura, não ela mesma. Assim vamos entender o que quer dizer o título desse texto. Deus não precisou de Maria, Deus quis Maria! Se Deus somente quisesse precisar de Maria, certamente cairíamos em um dos diversos comentários que fazem nossos irmãos separados (os protestantes), ao referirem que Deus utilizou-se dessa mulher somente para dar a luz a seu Filho, o Filho de Deus, não, o Filho de Maria também. Talvez tivesse Deus usado de Maria como “barriga de aluguel”. Que termo baixo, não?! Deus nasceu de uma mulher sim, mas, não de uma qualquer. “E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo: bendita tu entre as mulheres”. (Lc.1, 28).

Às vezes podemos até justificar nosso chamado vocacional a fim de auxiliar outras pessoas, colaborando assim com a obra redentora, mas, mais do que isso, ainda insisto em dizer: Deus não precisa de você, Deus te quer! Deus não precisa de sua resposta, somente conta com seu sim. Desde a eternidade Ele te espera, para ser Dele não para Ele.

O que me faz consagrado não é o que faço, ou o que visto, isto é mera aparência, o que me faz consagrado, é ser um com o sagrado, isso é essência. Isso é plena comunhão que se toca diariamente, o seu divino com meu humano e meu humano com o seu divino.

Se Maria dissesse não, certamente Deus em sua infinita sabedoria teria outros meios para nos redimir. Então, mais do que precisar, Ele quer! Isso já deve ser uma grande diferença em nossa concepção vocacional.

A pré-disposição para amar somente a Deus e ser somente Dele pressupõe a pré-disposição para fazer algo dentro de um carisma. O ser será sempre antes do fazer. Amamos o pobre, o moribundo, o dependente químico, o detento, a “madalena”, porque, antes de tudo isso, Deus nos amou por primeiro e agora fazemos tudo isso, porque, também antes, amamos a Deus. Contudo, o próximo sempre será conseqüência desse amor.

A expressão mais bela disso que estamos falando revela-se na Santíssima Trindade, três pessoas em uma relação pericorética (dança de roda, ciranda de amor) que se amam mutuamente, e externa o seu amor ao nos criar. A criação é fruto do amor trinitário. O amor é sempre em vista do outro, do contrário, seria egoísmo. O amor é movimento, dinamicidade e ação. “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é caridade” (I Jo. 4, 8).

Se assim é caro(a) vocacionado(a) finalizo esse papo contigo desejando e rezando para que faças o mais correto. Se há uma voz que chama a uma intimidade maior com o Senhor, não ousas em dizer não, lembre-se que a graça é dom doado e dom recebido. A graça é a mesma, mas, diferentes são as receptividades.

Queres um conselho? Não confie mesmo em você não. Deus não conta com você, Ele conta somente com seu sim. Dê o passo primeiro, pois Ele vos ajudará e estará contigo em todas as situações e lugares.

“Por isso dar é muito, agora saber dar é tudo” São Pedro Julião Eymard

Espero que essa Voz te incomode o quanto for preciso, que ela diga a cada instante como disse a beata Madre Teresa de Calcutá em suas locuções interiores: “Vais recusar?”

Deus abençoe sua coragem em dizer sim ou não.

Se fores responder, responda pelo amor.
Pois é o amor que nos manterá.
Por amor somente por amor somos de Deus e não de outro(a).
Por amor somos castos, pobres e obedientes.
Por amor, “o meu Amado é todo meu e eu sou Dele” Ct. 2, 16

Ir. Gabriel Eliseu dos Pobres
Religioso da Fraternidade O Caminho
“Fraternitas São Miguel Arcânjo” - Santo André/SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário